segunda-feira, 25 de abril de 2016
Ignorância
Ignorei já de cara dois amores, o meu e o seu.
E ignorar amor parece fácil, mas não é,
O primeiro passo foi ignorar nossa amizade,
e era isso que nosso amor queria, ele cobra até a alma,
ele cobra até a vida do amante, o amor é uma cobra.
Ignorei nossa amizade facilmente, assim como se ignora
um filhote de gato na beira da estrada.
Depois ignorei a você, e isso foi como ignorar a morte
de um pai, ou mãe.
Mais antes de ignorar qualquer coisa, o princípio da ignorância
foi ignorar a mim mesmo, e isso foi apenas como morrer.
Seu anjo da guarda é na verdade um zumbi.
Ignorei você dizendo repentinamente que me amava
assim como se ignora o som da trombeta do apocalipse.
Ignorei o fato de ter o dobro de chances de cruzar com seu rosto
nas ruas, da mesma forma como ignoro minhas doenças degenerativas.
Também ignorei nunca mais ver seu cabelo molhado, ou sentir seu cheiro
de ópio, ou rir do seu riso... assim como se ignora a fome e a sede.
Ignorei a impossibilidade de te defender da vida e de enxugar suas lágrimas,
assim como se ignora uma ferroada no céu-da-boca.
Ignorei todo o tempo perdido, assim como se ignora todo tempo perdido.
Ignorei seus olhares, fechando meus olhos para o olhar de qualquer alguém.
Ignorei todas as chances, assim como se ignora a oferta de uma coroa real.
Toda a história que não tivemos foi pautada em ignorância,
toda a história que um dia eu quis foi também ignorância, por um momento pensar que você
pudesse ser meu ou que poderia-lhe fazer meu homem foi meu mais alto ato de desinteligência.
Eu, em toda minha pobreza, suscitar ser proprietário de alguém, foi ignorar meu amado
desapego.
O mundo já diz: ninguém é de ninguém. E eu digo mais: nós nem nos pertencemos.
Todo amor;; todo esse amor; é um conjunto de ignorância e ignorâncias.
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