terça-feira, 2 de abril de 2013

Rodisval.



Rodisval, ó pobre, nasceu já acanhado, com fardo dado, cheio de doenças e cheio de faltas.
Mais quem diria, que Rodisval menino se transformaria, quem diria que poderia ser qualquer coisa que não si próprio. Ninguém diria, ninguém disse, Rodisval não foi. Rodisval já nascerá em marcha ré, seu destino já havia sido traçado ao contrario, riscado por ponta de lapiseira, quebradiço, frágil, denso, sujo. Ele era pobre, continuaria assim, não viveria aventuras, Rodisval não amaria, jamais seria capaz de dar ao próximo algo que nunca teve. A vida lhe seria apática e ele não podia suportar isso, Rodisval virara então um artista, mesmo sem talento, ele era um ator, sem papel, ele se maquiava enfrente as câmeras, Rodisval era sem senso, era desligado, Rodisval era nordestino, arretado, inquieto. Esse moleque perambulava procurando a vida, que o ignorava, que fugia, e ele insistia, quem o culparia por um interesse tão primitivo? Rodisval só se superava em uma coisa, em ser pior do que se imaginava, a pobre criança nordestina se transformara em um tirano sem poder, mal conseguindo cuidar de si próprio, guardava em si uma raiva de tudo, guardava em si e em si ódio por não se pertencer. Rodisval morre, em seu intrínseco nordeste, leva um tiro na cabeça de sua própria mão, o que não lhe mata em primeira instância, o que lhe mata é o barulho, é preciso que uma aguia ao se assustar deixe cair, bem lá de cima, onde se encontrava, um pedaço reluzente de espelho, que carregava no bico e que achara em um abismo inatingível. Rodisval morre com o seu reflexo, morre ao ver seu rosto, morre ao ver o brilho. Rodisval é uma sátira de Dorian Gray. De desfaz aos pedaços. Rodisval vai para o além, se torna uma assombração, um espirito encarnador, o que para sua incensante infelicidade se torna um problema, pois Rodisval não achava corpo tão pequeno quanto a sua alma em que pudesse habitar.

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