terça-feira, 15 de outubro de 2013

a chuva.

Confesso não gostar de chuva. Ela sempre me causa uma angustia. Quando chove eu não posso me mover, sair de um lugar e ir para outro. Aprendi a gostar de minha liberdade de locomoção, mas também aprendi que não devo sair em chuva, nem em tempo chuvoso. Gosto do cheiro dela e do silêncio que ela causa nas ruas, gosto da sensação de pele molhada, do sabor de nada da água, do cinza constante que ela traz, se me valesse a pena viver, quem sabe eu a olhasse com bons olhos. Existe toda uma mística entorno da chuva, dizem que ela limpa, eu discordo, a chuva ao meu ver corroê, assim como a mim a vida corroê, insistentemente incessante, rasgando contra o chão, decidida a levar tudo para baixo, aos poucos, vindo de cima pra baixo, contando com o auxílio da gravidade, sutilmente apontando o caminho para onde devemos seguir. Talvez se eu ainda tivesse o guarda-chuva ganhado na infância, se não o tivesse perdido logo na primeira esquina desatento, quem sabe talvez eu me aventurasse por entre os pingos ou perdesse logo na segunda esquina, a mim não seria estranho, nem a ninguém que me conhece - mas quem sabe? - quem sabe?
A chuva me espreme, disfarça meu soluço, esconde minhas lágrimas em meio as gotas, sempre posso culpa-la e agradece-la logo em seguida. Sempre posso contar com um tempo guardado em mim - aaahhh chuva, o que seria de mim sem o ódio por você?
Posso tanto estar errado, tanto quanto posso estar certo, mais a mim sempre pareceu ser o sol o intervalo da chuva, e nunca ao contrário - mais quem sabe?

Nenhum comentário:

Postar um comentário