sábado, 27 de março de 2021

Pequenos passos

 Havia algo entre os pequenos passos.

Aos poucos eu gostava mais da vida, de suas dores e belezas. Eu sintia algo que não sei dizer se estava dentro ou fora, era quase a junção de todo fragmento, o pó que me tornei tornou-se também o pó do meu apego. Eu gostava da vida, aos poucos, gostava de cada dia e até da humanidade de limites imposta entre eles.

O caos era lindo e fazia todo sentido, o tédio que outrora me torturava dava lugar as incertezas, quão belas! Talvez eu sempre tenha sido um esperançoso maltratado.

Os detalhes saborosos me despetaram, talvez, talvez seja um sonho, talvez, talvez eu estivesse sempre acordado ou dormindo, talvez, talvez eu seja perverso.

Vide as amizades e os amores, vide os ódios e os rancores, os detalhes. Viesse! Tudo me era encanto, até o medo me era dança, só o tempo me era fardo.

Até o pesado me surpreendia, a criança que fui me invadia, quão belas são as histórias, amei-as mais que os corpos, quão belas eram as derrotas, amei-as mais que os corvos, mas sei ainda que entre a dor e pudor pairavam inúmeros céus.

Eu sintia o tecido da história, que sorte a minha, sentia o segredo e o proibido, o calado e o mudo, que sorte, o escondido, e de nojo e amor forjei-me. Só as crianças sabiam. Tutorei o afeto por todos, nunca ninguém para odiar verdadeiramente.

Tinha sim entre os pequenos passos alguma coisa. Era entre o ser e o ocorrer, era a espreita, era o meu it.

Amei a vida cada dia mais e só pude amá-la tanto por desprezá-la tanto, amei e superei, mesmo hoje o tempo passado me entrega, amei antes porque o eu de agora presencia, para antes e durante é que me permeio, ai de mim da metafísica, dos cantos e do escanteio. Da letra, veja! É suspiro interjeito. Neologismo do aborto que nati e morto amou todos os seus sujeitos.


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