sábado, 2 de fevereiro de 2013

Compadecer.

        

         A beleza da praia é feita para os olhos, para os sensíveis olhos que percebem seu lixo, suas latas, suas sacolas, esses mesmos olhos que percebem também as conchas na areia e os peixes saltando por entre as ondas.
        A beleza da praia está na miséria de mãe e filha venderem, juntinhas, milho a vapor, doze horas por dia e também na espuma branca que traz o oceano, na não sincronia das ondas. 
        Só poderia agradar ver ao raiar do sol a cor que reflete em cada grão de areia e em tons mais desbotados a mesma cor no rosto da senhora, já no fim de sua vida, se preparando pra vender um delicioso camarão.
       És tão linda, oh praia. É para todos um sonho concreto, pois quem não sonharia em mergulhar em um mar infinito, quem não sonharia no auge de sua juventude passar o dia recolhendo latas para que não se vaia a vida através da virtude chamada fome. Oh as virtudes! Dessas a praia está cheia. Pairando sobre o senhor que le em tranquilidade seu romance e também sobre o jovem que se mostra para atrair a menina e usa-la como objeto sexual.
     É muita beleza, chega a cegar, é muita luz, claridão, de uma harmonia inigualável, de uma miséria inabalável, melodicamente natural, é o nascimento de vénus, é Afrodite a gargalhar.

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