sábado, 13 de abril de 2013

Sobre o desconforto.



O que me causa desconforto? A Desumanidade. Levando em considerações toda a arte trágica e miserável que se produz por ser humano, a minha intolerância começa entre a linha tênue que separa a tartaruga do crocodilo, que separa o sorriso da cara em risada da cara. Com certa eficiência o que já não mais me surpreendia, volta a me surpreender, como em um filme já visto,  em quando se sabe que algo irá acontecer, só não se lembra a qual hora, como se o começo, meio e fim se repetissem com diferente tonalidade cada vez mais escura e gosmenta, como um entretenimento a palhaços, mas a real questão é que eu não gosto de repetir filmes. Sou facilmente entediado, principalmente pela comum e grotesca realidade. Sim, confesso, sou realmente entediado pela realidade e talvez seja esse o motivo que me faça procurar nos outros e em mim coisas impossíveis, talvez  por isso crie comigo apego pelos trejeitos, por isso leve comigo cada elogio, cada gentileza, cada confissão, por isso torno-me cada vez mais um inigualável cúmplice e íntimo e talvez seja por isso que eu me importe tanto com a desumanidade, por ela me sinta agredido por todas e cada uma das vítimas. O problema da desumanidade ou dos desumanos, além de serem eles, é de também não serem, é de começar a sua prática sobre um fino véu, é de começar seu ritual com um fósforo reluzente e trazer todo o inferno de estar em presença da inaturalidade, de ver se esgotar, escorrer pelo ralo aquilo que é ralo, me deparar com um profundamente raso e o claramente escuro. Talvez seja até pretensão dar o nome de desumano para aquilo que é inatural, o desumano implicaria em uma contrariedade de tudo que é humano, uma suposta inversão de conceitos e isso traria para o aceitável todas as práticas inaceitáveis do ser, balancearia tudo trocando apenas as posições. O que eu chamo de desumano está para além, talvez supra-humano, um não-ser formado por valores prepotentes, arrogantes, nauseantes, dolorosos, um não-ser hostil a tudo o que o ser tem como virtudes e conceitos primitivos, hostil a força, hostil a inocência, hostil ao ser, por isso um não-ser. Um inseto, uma pele fria, uma marionete possuída  com sorriso marcado e faces claramente dissimuladas. Mas cuidado, não-ser, sem um "eis a questão" você acaba por não ser mais poesia, mas historia de terror, sempre que a realidade doer, um ser abstrato pode morrer, sempre que não se acredita em fadas elas morrem, sempre haverão quando fome bater os necrófilos assim como eu, para saborear uma carne tão amarga quanto a de um crocodilo, e após uma linda refeição, fazer do resto uma linda bota de couro a fim de retornar a casa sem me sujar em seu pântano.

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