quarta-feira, 10 de abril de 2013
Sobre os vícios.
O meu remédio é justa a cura de meu maior vicio, mas meu remédio é também vicioso. Um gota viciante de escuridão, um segundo apenas de não luz para saciar a vontade de uma vida que jamais me serviria. Um piscar, pra olhos tão vidrados, um vulto, ao menos uma sombra no horizonte. Mais o que me impede de curar, é o efeito do meu vicio sobre o remédio. Avassaladoramente feroz, meu vicio é um fluir sem barreiras, é de velocidade inigualável, é de tão concreto intocável, é de tão prazeroso, insuportável. Meu vicio é sorrateiro, perspicaz, habita o inabitável, é produzido em abismo, arrastando para o fundo sua vontade, arrastando meus olhos para as mais claras profundezas, tornando todo o obscuro infeliz, criando sóis a cada estrela que ameaça surgir ao cair da noite. O meu vicio tem como consequência um fartura egoísta, selando seus frutos em uma solidão a qual não se ache vivos para compartilhar, a qual companhias se tornam escassas, solidão a qual se ameniza por cumplicidade, também escassa. Estou em estado terminal, sofro de um câncer, estou possuído por um anjo, estou a cair de uma nuvem negra, estou farto. Mais o meu direito é de não reclamar, são médicos por todos os cantos, sem licença poética para me salvar. Ora ou outra, em um reflexo, me encontrarão, em overdose.
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