quinta-feira, 23 de maio de 2013

confessado.



Tenho confessado minhas misérias tão cruelmente como forma de pedir socorro, para que me ajudem a não ser eu. Já disse e assumi que sou uma pessoa extremamente carente e que planejo coisas horríveis  confessei que desejaria não existir e que odeio pessoas amáveis,  prometi a tirania, a maldade, prometi a vida como uma gota refinada de veneno. É um pedido de socorro, percebam, estou em carne viva, ainda que debaixo de um casaco de pele, estou gritando com a boca serrada como se estivessem me ferindo em segredo, e estão, todos estão, a todo tempo me ferindo em segredo. Já desisti até de morrer, tenho medo de não encontrar conforto na morte, já desisti de ser bom, desisti de esconder meu egoísmo e minha falta de bom senso, desisti de esconder a pessoa mimada e arrogante que sou, parei de tentar esconder o quão eu gosto das pessoas e o quão eu não gosto delas também. Estou em uma estrofe sem rima, estou sem poesia, eu sou no momento a poesia, uma poesia de dor, de morte, de perdão. Estou assumindo para afugentar os demônios,  para matar os fantasmas, estou assumindo a minha condição miseravelmente humana, minha condição problemática e patológica, estou assumindo o perigo de não mais amar, de não mais ser capaz de tal por medo. Eu tenho medo, muito medo, mais eu também não tenho, eu também não tenho nada, eu só tenho um laço, que agora desfaço e então se desfaz em dois, ou em um, ou em nenhum, ou em ninguém, ou não se desfaz.

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