sábado, 29 de junho de 2013

Sala de ossos.



A que me disseram, de princípio, ele não era infeliz, era recluso, ainda que em boa companhia. Viverá em sua casa, numero cinco na rua dos pintassilgos, casa branca, meio amarelada, espaçosa, mesmo com os inúmeros móveis que comprará ao longo da vida, quando me contaram essa história,não souberam me dizer a idade do homem que não era infeliz.
Pois bem, ele morria, em meio a sala, onde passava a maior parte do tempo sem receber visitas, ninguém ousará ou ousaria pisar em seu tapete grosso tão branco quanto os sofás. Suas janelas estavam sempre fechadas e só abria as cortinas uma vez ao dia, pontualmente ao meio dia menos nos dias nublados. Não era casado, nem tinha filhos fumava na varanda aos domingos e entre essas pequenas oportunidades em que podia ser visto acabou por causar uma paixão em seu vizinho que a partir de então passará a buscar o pão em um horário particular conveniente, só para ver em 2 segundos de ida e dois de volta o homem que o intrigava, mas do qual por toda a sua vida não descobriria o nome.
O homem sem infelicidade ia ao mercado as seis horas da manha, no primeiro canto do galo, e lá não demorava mais que meia hora. Dizem que uma vez foi visto em uma livraria no centro, contudo ninguém tinha se familiarizado com seu rosto o suficiente para afirmar fato tão extraordinário.
No caso de sua morte, da qual me convenci ter sido em uma quinta-feira,  estava ele sentado em seu pálido sofá e ao se levantar tropeçou em seu pálido tapete, o ambiente avermelhou-se, bateu a cabeça em uma mesinha central. Foi achado por incomodar os vizinhos com seu cheiro, o rosto já era irreconhecível, a ponto dos dedos estavam queimadas. Retiraram o corpo rapidamente, o vizinho apaixonado nem ficará sabendo, apenas não o via mais aos domingos. Não foram encontradas fotos, diários, nem cartões. Nenhum documento existia e após 5 anos foi retirado de seu tumulo anonimo ao conto do cemitério para a sala dos ossos.

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