Ou eu minto tão bem ou eu minto muito mal e as pessoas sentem pena de mim e fazem de conta que acreditam, e vivem acreditando por piedade e acabam por se perder entre a realidade e fantasia. Ou eu minto muito mal ou eu minto muito bem, tão bem que as pessoas caem facilmente e vivem a minha fantasia como se ela fosse a realidade nua e crua. Ou eu minto ou eu não minto, e tão não minto que as pessoas acham que só podem acreditar que tudo o que eu digo é mentira, e assim desconfiam de tudo e acabam por acreditar em tudo o que eu disser, ao contrário! Ou eu não minto ou eu minto tanto, que as pessoas jamais conheceram uma verdade sequer através de mim, e não conheceram também nada falso através de mim, talvez eu minta tão bem que consegui manter em mentira a minha existência. Devo-lhes confessar, demasiadamente satisfeito, que eu sou fruto das várias cabeças e que sou uma mentira tão grande para todos, e que eu só existo em forma de gente, devido aos seus mecanismos de auto-defesa! Me entenda e descubra se você sabe mentir, porque eu não aprendi nem a falar, nem a escrever, nem a expressar... ou eu estou mentindo?
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