Após cruzar com esse jovem alto, arrogante e normal, caiu-me uma ficha quase como uma facada em meu ego, uma percepção que uma pessoa que se considera de pensamento rápido assim como eu me considerava até então já deveria ter ocorrido a muito outros passeios noturnos atrás. Pensar que o garoto poderia seu um ladrão e que pudesse me fazer algum mal, fora tão natural a mim que se quer levei em consideração pensar nas milhões de outras possibilidades que aquele mesmo garoto poderia ser, assim como obviamente as pessoas são milhões de possibilidades diferentes, assim como não se pode, mesmo através da racionalidade, supor que existam mais pessoas boas do que ruins também assim como tão não se pode supor se as diferentes pessoas são mais boas ou mais ruins. Ainda aceitando o fato de que se eu não fosse eu talvez essas considerações acerca do garoto nem fossem feitas, mais isso não é possível, feliz ou infelizmente.
Mais ainda me sobrara muito caminho ao longo do teatro, e as minhas considerações ainda não se sentiam findadas o suficiente. Pensei então, o porquê de projetar algo para ele, se logo minha projeção seria desfeita ou confirmada pelo fato concreto, o fato concreto nesse caso era de que ele não era um ladrão ou ao menos não me assaltou naquele momento. As pessoas tendem realmente a um julgamento prévio, mas o futuro não faz sentido se ele não está no presente, o óbvio pode ser esperado, mas só esperado, o óbvio no presente é fato e não possibilidade, e possibilidade no futuro é só uma possibilidade.
A minha descoberta óbvia, a minha descoberta-fato, se deu então logo em seguida, e minha descoberta-fato era só sobre mim, não seria audacioso o suficiente para esperar uma descoberta acerca da realidade ou natureza humana. Eis um fato em meu percurso. O garoto me roubou. Ele me roubou ao primeiro contato que tive com sua silhueta a distância, ele me roubou assim que pensei em ser roubado. Já era tarde, ele roubara a minha paz, ou sossego, ou tranquilidade, ou conforto. Seria injusto nesse ponto dizer que me roubaram algo que nem mesmo sei definir, mas me roubou, e a minha descoberta óbvia é que sempre serei roubado pelo menor alarde entre as sobras, pelo menor baralho entre as árvores. O meu conforto sempre será roubado por minha condição pessimista, ou realista, ou de má-sorte, ou por outro lado sempre ganharei desconforto, por essas mesmas condições.
Existe para mim uma descoberta velada acerca de tudo isso e que sim pode ou não ser o esboço se algo maior, ou de um saber que já até exista e eu é quem não sabia. As pessoas podem ser tudo! Tudo o que eu quiser. E isso não faz a maior diferença.
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