sábado, 26 de novembro de 2011

Na ponta do lápis.

Está tudo na ponta do lápis, pronto pra ser escrito. Está na ponta do lápis, a palavra, o pedaço de vidro, a gilete e a espada. Cai sangue ao escrever. Escreve desenfreadamente e sofre de hemorragia interna.

O lápis grita e grita em caligrafia ilegível, se torna ilegível, incompreensível, indagável, porque gritou e fez correndo, escreveu rápido, leu rápido e gaguejou. Não entendeu, nem mesmo quem escreveu, e não entenderá quem a carta deve ler.

Na ponta do lápis, a espada cai, não batalha, e não ataca o espelho, não mata o de fora com medo de matar a si mesmo.

A ponta do lápis guarda a hesitação, os medos, os rancores não declarados, poupa a folha de suas manchas de grafite, carbono solido, carbonizado.

O que está na ponta do lápis, na ponta do lápis ficará e o que está na ponta da língua, na ponta da língua ficará. Hesitar. Remover a armadilha. O herói hesitante usa colar de criptonita. O herói hesitante deixa na ponta do lápis, e o vilão o força a escrever.

E só chega na ponta do lápis após chorar o oceano, nadar em mar de espinhos e olhar direto pro sol. Por regra, se deixa na ponta do lápis, sem escrever, o mais importante é não escrever, gravar na mente, não deixar nunca o outro saber. Egoísmo patológico.

E ficam, todos os tópicos, agonizando por atenção, o titulo diz tão pouco quanto o texto inteiro vai dizer. É só um minuto de tristeza em que por acaso o lápis se encontra na mão. O minuto acaba e o lápis continua com tudo o que tem a dizer.

E de tudo que queríamos, devíamos ou podíamos fazer, jogamos o lápis fora e junto se joga tudo o que nele se encontra.

A caneta marca com tinta os fatos. O lápis marca a grafite o pecado, e eu que sou só hesitante, viro também pecador.

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